[Corrente de Reviews 2016] Kino No Tabi - The Beautiful World



Olá pessoal! Esse artigo será um pouco diferente do que eu normalmente posto aqui no blog, porém será um artigo bem parecido com nossa série de artigos "Meditando No Enredo".  A diferença do artigo inicia pelo titulo não é? Sim, esse artigo faz parte de um conjunto de reviews postados em corrente, um projeto incrível e divertido idealizado e mantido através dos anos pelo blog Anikenkai. Nessa edição estamos participando, e o Diego do É só um Desenho, um nome já conhecido nosso, que acabou sendo o responsável por me indicar a obra a qual eu deveria fazer uma review, e a obra escolhida por esse nosso amigo blogueiro é Kino No Tabi. Curioso com a experiência que tive nessa obra incomum? Bom, vamos ao texto:



Março do ano de 2000 foi a data inicial do projeto de Kino No Tabi, iniciando nessa data a publicação da Light Novel da obra, escrita por Sigsawa Keiichi e ilustrada por Kuroboshi Kohaku. A intrigante obra não demorou a receber uma adaptação para anime pelo estúdio A.C.G.T.(Koi Kaze), o ano em questão era 2003, foi quando a obra foi adaptada com a direção de Nakamura Ryuutarou (Rec), a adaptação contou com treze episódios de vinte e quatro minutos, e é dessa adaptação que falaremos hoje. Porém antes de dar sequência preciso relatar que no inicio do ano de 2005 o titulo ganhou um filme que narra fatos anteriores aos adaptados no anime de treze episódios, e logo no mesmo ano mais tarde ganhou um pequeno especial. Dando sinais de vida ao longo dos anos podemos observar várias pequenas estreias da obra, como um novel spin-off em 2006, um filme de vinte e oito minutos em 2007, e um mangá spin-off com três volumes que foi publicado de 2010 até o ano de 2012. Apesar dos vários anúncios sobre a obra, as últimas adaptações baseadas na obra foram simples usos comerciais para gerar lucro, sem o conteúdo ser diretamente ligado ao profundo e apaixonante conto de Kino.

Kino No Tabi nos narra a história intrigante de Kino, uma garota viajante e sua simpática motocicleta falante que recebeu o carinhoso nome de Hermes. Em um mundo muito incomum, cheio de países únicos, Kino viaja sem um destino certo, buscando através do tempo conhecer o máximo de lugares que conseguir, sempre junto de Hermes, atravessando os países sem grandes objetivos ou regras, exceto pela regra que é seguida fielmente: jamais permanecer mais de três dias em um país. Kino é firme em seu objetivo, e por mais que simpatize com os lugares que visita, sempre mantém sua regra de apenas três dias, um prazo suficiente para conhecer o lugar, conhecer as pessoas e as histórias, mas jamais se envolver tanto com as pessoas a ponto de desejar deixar de ser uma viajante. A obra nos conta as várias histórias da viajante, em um mundo onde cada pequeno país é tão diferente e contrastante que faz certamente a viagem sem fim de Kino ser justificada e valer a pena.

Apesar da proposta simples, o anime nos traz um conteúdo diversificado e muito complexo. Durante as viagens de Kino e Hermes, muitos são os pequenos "países" visitados, esses países são na maioria tão pequenos que se assemelham mais com cidades, porém com um poder de país. Apesar de existir sim alguma comunicação entre esses países, eu tenho a imediata impressão que a obra se trata de uma representação de um mundo que evoluiu sem que houvesse um maior contato entre as diferentes nações do mundo; resultando em uma variedade imensa de religiões e linhas de pensamentos filosóficos que não poderiam existir em um mundo que caminha cada vez mais para uma completa unificação de informações, uma realidade cada vez mais evidente em nossos dias atuais, onde a internet e outros meios nos permitem uma mistura completa de culturas. Então em Kino no Tabi temos a oportunidade curiosa de observar como seria um mundo onde cada pequeno país evoluiu com mínimas interferências de outros países, resultando assim em uma variedade incrível de evolução tecnológica, onde Kino visita países de tecnologia futurística com Robôs e maquinas autossuficientes, androids e muitas outras evoluções no campo robótico e até mesmo em questões biológicas, e em contrapartida podemos ver a protagonista conhecer também cidades onde a vida ainda se assemelha a idade média, e temos até uma cidade onde uma garota deseja construir uma máquina que tenha a capacidade de voar; tudo isso aos olhos de Kino é apreciado, a protagonista da obra tem o prazer de poder conhecer as mais diferentes evoluções tecnológicas, as mais diversas religiões e os mais pitorescos costumes locais. Kino é movida pela curiosidade, indo sempre de encontro a informações da história do local onde chega, buscando sempre conhecer os costumes e as vezes até mesmo participar e se aproveitar deles.

Bom, Kino No Tabi é um anime episódico, contando ao menos uma história por episódio, alguns inclusive contam mais de uma história que no fim acabam tendo uma conexão, então vendo desse ponto a evolução da personagem Kino fica um pouco comprometida, entretanto ela já é tão imediatamente interessante, que a evolução chega a parecer desnecessária. Começando da origem curiosa da protagonista, e seu desejo por viajar, até a sua moral duvidável, mas firme, tudo em Kino é interessante. Mesmo seu nome, têm uma história por trás! Em tempos onde a representatividade se tornou assunto em alta, eu me pego assistindo Kino No Tabi, obra antiga, e que mesmo assim tem como protagonista uma garota firme, não sensualizada em momento algum, e como heroína em momentos de necessidade sabe ser forte e perigosa; romance não parece ser um tema que atraí Kino. A protagonista serve certamente como olhos através dos quais assistimos aquele mundo, porém ela na maior parte dos momentos mantém firme sua moral e imparcialidade, se envolvendo sempre o mínimo possível nos costumes e práticas dos locais que passa, não indo contra práticas cruéis, Kino não passa a imagem de heroína da justiça que estamos acostumados a esperar de um protagonista, muito pelo contrário Kino chega a ser até um pouco "vigarista" em dados momentos, quando se aproveita da cultura local para economizar ou lucrar com algo que obviamente é um erro o qual ela conhece a correção.

Kino No Tabi nos conta a cada episódio uma história diferente, e com uma mensagem moral bastante forte no final, forte o suficiente para alterar formas de pensar, e fazer quem sabe algum sentimento forte tomar lugar no seu coração conforme você assiste através de Kino o mundo, que apesar de ser totalmente fantástico, é também aos poucos uma grande representação do nosso mundo; um lindo mundo, mas que esconde em sua beleza tentadora perigo e hipocrisia.  Revolta, angústia, curiosidade, medo; todos sentimentos os quais nos deparamos nos episódios da obra, sentimentos esses que junto com a evolução dos pequenos contos tomam conta de nosso ser, tudo isso por conta da protagonista Kino, que costuma se recusar se envolver com tudo, logo cada crueldade ou cenário depressivo visto na viagem não será alterado em nada, sabemos que Kino não trará a brilhante paz a todos, ela apenas passa, e até sofre pelo que vê, mas não tenta por nenhum momento impor sua vontade ou moral. Apesar de não se envolver, e nem ao menos tentar impor-se sobre os costumes dos lugares que visita, Kino como protagonista é uma ótima ferramenta do enredo para nos fazer repensar ideias e comportamentos, a garota sempre tem uma pergunta crucial para fazer, ela sempre tem uma dúvida a adicionar no contexto que faz total diferença para quem assiste, ela pergunta o que queremos saber sobre práticas boas e ruins, e mesmo recebendo as vezes respostas obviamente erradas ou até mesmo hipócritas, ela se retira sem continuar a questionar.

Bom, não só feito de enredo e bons diálogos é um anime não é? Então preciso quebrar um pouco nosso ritmo de texto descritivo sobre o brilhante enredo e falar um pouco sobre demais pontos importantes da obra, a começar pela parte visual. Bom, o anime é antigo, foi uma adaptação feita por um estúdio fraco e sem grandes títulos, mas mesmo assim conseguiu ser interessante o suficiente para que a questão visual não atrapalhasse a história que estava sendo contada. O design de personagem da protagonista e seu companheiro fiel Hermes, é muito interessante, e até mesmo brilhante para época, um design que sendo simples ainda chama atenção e consegue deixar a identidade visual da protagonista em destaque absoluto, sem o uso da sensualidade e sexualização da garota, que sempre veste muita roupa e até mesmo aparenta ser um homem até certo ponto da obra. Os cenários apesar de não muito detalhados, e com texturas bem antigas, ainda parece adequado demais para contar os pequenos contos vivenciados por Kino. Em todo caso, a parte visual não é incrível em um padrão atual, mas julgando pela época é sim uma bela obra. Agora, a trilha sonora não é boa só para a época, é boa para sempre! Muita coisa pode evoluir, mas a música ainda pode ser apreciada sem perda mesmo com o passar dos anos, e esse é o caso da trilha sonora apaixonante que Kino No Tabi veio me fazer conhecer.

O elenco limitado é de certa forma um dos méritos da obra que eu não poderia deixar de citar. Sendo uma obra episódica, é normal esperar que exista um pequeno elenco fixo, e que o restante seja sempre passageiro. O curioso é que Kino é a única personagem humana do elenco fixo da obra; ela é acompanhada por Hermes, um personagem muito interessante e engraçado, mas que ainda é uma moto. Todos os demais personagens são passageiros, nenhum deles se atrela mais ao enredo que outro. Sendo dessa forma, curiosamente a obra nos dá uma sensação de nostalgia a cada episódio, uma saudade do país anterior, e uma curiosidade do próximo...

Conclusão? A viagem de Kino é uma oportunidade única de repensar muito sobre a vida, por incrível que pareça a obra tem esse poder sobre o espectador atento e interessado. A obra nos faz muitas perguntas, e nos dá muito poucas respostas, nos impõem muitas questões morais sem no fim dar a resposta "correta". A obra busca sempre deixar em aberto a questão do certo ou errado. Em um mundo muito curioso, onde não se sabe qual a próxima parada, e o desconhecido é certo, onde muitas aventuras aguardam e muitas questões difíceis surgem, uma garota e uma motocicleta falante viajam, indo a lugar algum, com objetivo nenhum. A guerra, a fome, a miséria, a dor da perda, a felicidade, o amor, a fartura e a certeza de um amanhã, sentimentos cultivados nos corações dos homens, por onde Kino passa algo está acontecendo, e melhor que ninguém ela observa o humano ser humano, sem nunca o julgar. Por muitas questões essa obra que me traz muitas emoções não é indicada a qualquer um, mas posso dizer que qualquer um que tenha o interesse, e o gosto pessoal suficientes para assistir e gostar de Kino No Tabi, será abençoado com uma jornada única.




Bom pessoal, inicialmente agradeço ao pessoal do Anikenkai pela iniciativa e também pela oportunidade dessa participação. E agradeço imensamente ao Diego do Eu Sou Um desenho (Piada interna) por me apresentar um anime que me emocionou e me conquistou a ponto de eu colocar ele no meu top 10 obras favoritas! Essa obra conseguiu de fato me marcar! Mais uma vez, obrigado cara.


Bom, agora que rufem os tambores! O próximo artigo da corrente está nas mãos do Canal Otakando, eu indiquei a eles uma das minhas obras favoritas, Kanon! Espero que ele tenha um coração macio e deixe-se pegar pelo clima triste e romântico da obra! Bom, em todo caso fiquem atentos para os próximos passos da corrente nesse link aqui!

Bom, até a próxima pessoal!

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