Meditando no Enredo - #9 Nazo No Kanojo X: Um Romance Nojento... Melhor que o seu!

Esse é um artigo que busca desenvolver melhor alguns assuntos propostos de forma mais tímida por alguns animes. Normalmente o artigo se desenvolve comparando fatos da realidade, com o assunto proposto no anime escolhido da semana, e justificando/explicando fatos comuns nos animes.

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Hoje vamos falar de algo mais simples que os animes anteriores. Como eu fiquei pensando por muito tempo qual tema seria interessante de abordar aqui, eu acabei escolhendo o anime que eu sempre escolho quando preciso de algo exótico: Nazo no Kanojo X. Inclusive, se você leitor ainda não conhece, eu lhe sirvo agora esse link aqui, que irá lhe enviar até uma boa indicação sobre a obra sem nenhum spoiler. E para os que conhecem/ nem querem conhecer eu convido a leitura que se segue abaixo:




Estreava em 25 de agosto de 2004 um polêmico mangá, criação original de Ueshiba Riichi, serializado pela revista Aftermoon, esse era Nazo No Kanojo X, no original "Nazo No Kanojo Ekkusu". Quando alcançava o seu oitavo ano de publicação, o mangá que já havia provado sua qualidade resistindo ao tempo, ganhou no ano de 2012 uma adaptação para anime contando com treze episódios, animado pelo estúdio Hoods Entertainment, com direção de Watanabe Ayumu (Doraemon, Uchuu Kyodai) e Character design de Konishi Kenichi (Beck, Fullmetal alchemist (filme)). A equipe encarregada da adaptação teve de enfrentar o difícil desafio de encaixar o que até então eram oito volumes de mangá  em apenas treze episódios, e no fim conseguiram no muito (com cortes) adaptar o mangá até o quinto volume. Em agosto de 2012, mesmo ano de lançamento do anime, a obra ganhou um Ova de vinte e seis minutos lançado em comemoração ao nono volume do mangá que havia acabado de ser lançado. Dois anos depois de ganhar animação, em 25 de agosto de 2014 encerrava o mangá contando com doze volumes e noventa e seis capítulos.

Nazo No Nakojo X nos conta a história de Akira Tsubaki, um colegial comum que vive sonhando ter uma namorada, apesar de lhe faltar experiência no amor, no passado Akira já se apaixonou e por falta de competência terminou no que chamamos de Friend Zone. Tudo vai normal na vida de Akira, até que uma misteriosa garota chamada de Mikoto Urabe se transfere para a sala de Akira. A garota aparentemente tímida, silenciosa e misteriosa logo ganha o interesse de Akira, que por se sentar bem ao seu lado passa a observar atentamente as ações bastante incomuns da garota ao seu lado, que evita todo tipo de aproximação de outras pessoas, evitando assim amizades. Um dia, após o fim das aulas  Akira percebe que Mikoto ainda dorme em sua mesa desavisada do horário, e resolve a acordar, e é nesse momento, que com uma olhada mais de perto, se viu tremendamente impressionado com a beleza da estranha garota, e assim se apaixonou na primeira troca de olhares (já que o cabelo dela cobre os olhos quase sempre). Mas é quando a garota se levanta e saí da sala, que ao pôr do sol Akira inaugura a sequência de cenas estranhas do anime, lambendo a saliva da garota que havia ficado sobre a mesa, e para nosso espanto, achando-a saborosa. Após uma pequena sucessão de fatos, Akira se encontra doente, e novamente para nosso espanto, ele não está com uma doença viral transmitida pela baba, e sim doente de amor. Agora você imagina que Akira é um maluco isolado, não é? Bom, nesse ponto Mikoto explica que para ele se sentir bem só precisa continuar bebendo a baba dela diariamente, e dessa forma começa o provável namoro mais estranho dos animes.

Já não fosse o incomum inicio da obra, a troca de fluídos corporais segue presente por toda a obra, e por incrível que pareça, duvido muito que seja tão sedutor quanto pode ter passado em sua cabeça agora. Nazo No Kanojo nos apresenta um casal diferente, que tem um inicio de relação singular, e que segue levando essa relação de forma única. Mikoto é uma garota muito misteriosa, enquanto Akira é um colegial comum, certamente uma versão simplificada do que eu ou você já fomos (Ou ainda é) tirando é claro o fetiche por lamber saliva fria em mesas de colégios. A obra parte de um principio shounen, aquela obra voltada ao público adolescente, e por motivos de temas acaba parecendo um shoujo voltado para garotas que adoram histórias de amor inocente, mas no fim de fato é um seinen, obra voltada para público masculino e adulto. Pode parecer um pouco desarranjado tudo isso, mas quando olhamos de perto, percebemos que a real intenção do autor, é resgatar com bastante nostalgia aquele momento tão único que é a descoberta do amor. A obra, de sua forma ímpar vem trazendo uma versão estranha de um primeiro amor muito sensível, e que sem encobrir os rastros traz desde sua abertura até o conteúdo do enredo referencias simbólicas bastante pesadas, um erotismo velado poucas vezes visto em animes por ai.

Seguindo um raro ponto de vista de obras japonesas onde a mulher controla a relação do casal, Nazo No Kanojo X nos apresenta a personagem Mikoto como uma garota além de misteriosa, decidida e cheia de suas convicções que precisam ser seguidas com poucos sacrifícios sendo permitidos. Quando algo saí do esperado pela personagem, nada de bom vem. Mikoto Urabe é uma mulher que muito se assemelha a realidade, onde ela guia o relacionamento sem se deixar notar, não perdendo seu carisma e sensibilidade, mas sabendo mostrar força com suas decisões. Com suas tesouras mortais Mikoto(vou chamar de Urabe, pois Mikoto me lembra nome de homem), Urabe é decidida e sabe muito bem até onde deixará seu namorado e protagonista Akira, ir; toda vez que o pobre garoto tenta atravessar a tênue linha do permitido e proibido sua vida passa a correr risco. Diferente do comum visto em animes Harem, ou comédia romântica, nessa obra a garota não fica distribuindo golpes a fim de buscar humor, e sim para recolocar Akira em seu lugar. Os avanços do sedento rapaz não são brincadeiras, e as respostas da moça são de igual ou superior força. Uma relação bastante pé no chão para um anime/mangá, vocês não acham? Pode até ser, mas o que torna a relação verdadeiramente única, é o que vem a seguir...

Normalmente obras nipônicas que seguem o rumo do romance, tendem a seguir sempre um mesmo caminho que já se tornou óbvio para a relação entre os personagens. Mesmo que uma situação seja muito esperada em uma obra de romance, essa espera se dá pela ansiedade de ver o casal de personagens únicos da obra em questão chegando ao momento mais esperado. Falamos um bastante sobre o romances Japoneses em outro artigo, aqui vai o link. Mas o fato é que existe um caminho comum, que tende a ser seguido por muitas obras com tema romance, que podem seguir completamente ou parcialmente, esse caminho posso resumir assim: Chamar pelo primeiro nome, se declarar, iniciar namoro, andar de mãos dadas, admitir publicamente o relacionamento e por fim o esperado beijo. O fato é que esse caminho é tão comum e esperado em obras de romance, que quando uma obra segue um caminho mais rápido ou pula algumas das etapas acaba ganhando a atenção do público. Agora, e se os elementos forem mantidos, mas embaralhados de tal forma que não se possa mas os interpretar com facilidade? É o que Nazo No Kanojo X veio trazendo em seu enredo. Cada vez que há uma interação romântica entre o casal, a obra nos faz contemplar a questão: Isso foi nojento ou romântico? Há nessa obra uma quebra de expectativa, um redirecionamento de atenções tamanho, que após acompanhar a obra até certo ponto, não sabemos mais o que esperar. Em um momento onde algo errado acontece, e os protagonistas voltam a se aproximar, devemos esperar o que? Que eles troquem saliva com os dedos novamente? Uma troca de expectativas, que gera um novo padrão. Durante cada final de dia, no pôr do Sol o casal troca cuspe com os dedos, quando não acontece, acabamos sentindo falta(?), mesmo que seja nauseante, é o padrão romântico estabelecido entre Urabe e Akira.

No lugar de abraços e beijos, o casal troca saliva com os dedos. No lugar de uma coisa mais quente, Urabe cospe em um frasco e manda Akira beber ele antes de dormir, e o garoto o faz com tamanha vontade que até nos faz esquecer que é cuspe frio... Toda vez que trocam saliva, trocam emoções, um sabe o que o outro esta pensando, e sentindo. A obra tem o poder de transformar uma troca nojenta de fluídos em um ato de amor, e essa transformação é tamanha, que quando ela o faz com outro garoto logo acendemos o alarme de "traição!". Conforme o casal vai se aproximando, nós acabamos nos deparando com a intimidade deles aumentando, a tal ponto que Akira começa desejar outros fluídos da garota. Não, ainda não vai lhe agradar (ESPERO). Para quem acha que troca de saliva, que de toda forma ocorre em um beijo, estranho por ser transmitida com o dedo, certamente vai questionar demais Akira desejando o suor da garota, ou dando aquela lambida para sentir o gosto da orelha dela. Sabe lá onde essa coisa deles pode acabar parando, mas o fato é que há nessa obra uma substituição efetiva de elementos românticos por consequências de interações amorosas sendo feitas diretamente. Calma! Eu vou explicarrrrr. Como é lindo o primeiro beijo de Risa e Otani em Lovely Complex não é? Mas como é repugnante Urabe metendo o dedão cheio de baba dentro da boca de Akira cheio de febre na cama... Como foi controverso quando príncipe Zen deu aquela apertada firme na Shirayuki, aquela mordida no pescoço... Mas Como foi nojento Akira tentando dar umas lambida na orelha da namorada........ De fato a obra parece ser um escárnio contra o romantismo. E provavelmente é....... Ações que se feitas da forma certa são românticas, foram mostradas de uma forma para lá de excêntrica, e causou espanto de todos!

Se a relação de troca de saliva de Akira e Urabe é bastante inquietante, posso dizer que por outro lado, a vasta abordagem a temas próprios do romance é mirabolante. De sua forma única, e um pouco debochada, Ueshiba Riichi nos conta bastante sobre traição, amores do passado, evolução de uma relação, e limites que devem ser alcançados aos poucos. Mesmo temas um pouco mais comoventes são trazidos a destaque durante o enredo, como a morte da mãe de Akira, e a solidão de Urabe. A obra vem nos ensinando com tais temas, bastante sobre o amor, as dificuldades e as recompensas, eu diria que mais que obras tremendamente dramáticas, Nazo No Kanojo tenta apenas mostrar a realidade através do fantástico e surpreendente. Mesmo que inicialmente nojenta, a relação do casal protagonista se prova cada vez mais profunda, onde eles compartilham tudo que sentem através do ato sublime de se ligarem por algo íntimo. A obra vem nos lembrar durante seu enredo, que um beijo, por mais simples que seja, fala muito da relação do casal, e não deveria ser dado apenas por exibição ou inchamento de ego. A obra ensina muito sobre como um relacionamento deve ser baseado em amor, e não em metas a serem exibidas a todos, fato que o protagonista Akira precisou ser chamado atenção por Urabe, já que demonstra querer fazer algo, pois seu amigo já havia feito. Partindo de pequenas lições explicadas por meios mais excêntricos possíveis, o amor é peça central de um enredo que escapa do óbvio. Enquanto Akira quer um abraço, ganha baba, e quando ele quer algo além, ganha baba fria. Akira vive tentando seguir o "normal" e Urabe com seus exóticos costumes sempre o leva a conhecer novas formas de relacionamento. E mesmo quando o garoto consegue seguir o caminho "normal", andar de mãos dadas, fazer um carinho na cabeça de Urabe, apertar sua orelha (??) o clima único entre o casal se mantém, fazendo do momento único.

Que Urabe é misteriosa, já ficou claro, não é? Mas quando assistimos ela de perto, ela fica cada vez mais interessante. Ela prefere trocar saliva a beijar o namorado, dispensa amizade alegando que só precisa do amor de Akira, vive em um apartamento que aparenta solidão. E para deixar a personagem ainda mais misteriosa, em cenário de fundo notamos que em seu quarto há várias referencias a extraterrestres! Ela é de todo modo muito estranha, misteriosa e quem sabe a personagem feminina mais próxima da realidade feminina que já assisti. Akira nunca entende os desejos dela, só erra, e no fim ela precisa dizer o que deseja. Quem nunca não é?

E para finalizar, todos sabem o quanto eu gosto de cenários não é? Não bastando amar cenários de animes, atualmente ganhei o costume de tirar fotos de todo o cenário bonito que vejo também, então é óbvio que mesmo quase saindo do objetivo do artigo, preciso dizer que os cenários da obra são repletos de nostalgia e romance. Cada um dos cenários quase vazios da obra carrega uma forte carga de romance, e juventude. Para mim, que amo cenários, certamente essa foi a isca para eu assistir o anime mais de uma vez, e provavelmente só gostei da obra por conta de seus cenários vazios, calmos, cheios de natureza... Cada dia finalizado, um pôr do sol novo, e emoldurado no romance esquisito de Akira e Urabe...

O artigo de hoje teve como objetivo desconstruir a imagem "nojenta" de Nazo No Kanojo, por meio de comparação, apresentar que a relação do casal protagonista sobrevive através de ações alternativas ao que normalmente é esperado do romance. Apresentei minha visão, de como o romance é acima de tudo, único. Mesmo que muitas obras tentem criar uma espécie de conduta para o romance, ele nasce espontaneamente de qualquer ato feito com amor verdadeiro, sem objetivos secundários. O amor de um casal pode existir em um beijo ao pôr do sol, uma caminhada ao luar, uma conversa engraçada em um dia quente ou quem sabe, como apresenta o anime, a mera repetição de um ato íntimo todos os dias, no caso de Urabe e Akira: A troca de saliva.


E para os leitores ainda solteiros, eu recomendo assistirem Nazo No Kanojo, e aprenderem que não se troca saliva com os dedos, é melhor beijar mesmo...

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